domingo, 12 de julho de 2009

Um corredor amador e a arte da felicidade

Recentemente, por indicação médica (Dr. Milton Mizumoto), fui aconselhado a ler o livro “A Arte da Felicidade – Um Manual para a Vida” escrito por sua Santidade, o Dalai Lama e por Howard C. Cutler. Esse conselho teve como princípio o início de um tratamento que visa eliminar uma certa ansiedade que provavelmente é a causa de uma série de alterações em meus exames de colesterol, triglicérides e diabetes.
Foi-me ainda prescrito que essa leitura deveria ser feita sem pressa e de maneira paulatina, afim de que seu conteúdo fosse incorporado em minha mente de forma radical e definitiva e que servisse como motivo para uma série de reflexões que pudessem alterar o meu comportamento e conseqüentemente meu sistema nervoso, ou vice versa.
Após alguns capítulos lidos, fiquei impressionado com algumas colocações feitas e suas relações diretas com as corridas e sendo assim não posso deixar de escrever sobre elas.
A primeira delas é sobre a expressão: “A felicidade é determinada mais pelo estado mental da pessoa do que por conhecimentos externos”. Interessante que ao praticar a corrida conseguimos alcançar momentaneamente um nível geral de felicidade que pode produzir uma sensação temporária de enlevo ou de depressão dependendo do sucesso ou fracasso obtido nas provas. Entretanto, existem passos que podem ser dados para trabalharmos o “fator mental” afim de que possamos aumentar nossa sensação de felicidade. Na realidade o fato de nos sentirmos felizes ou infelizes, a qualquer dado momento costuma ter muito pouco a ver com nossas condições absolutas, mas é, sim, uma função de como percebemos nossa situação, da satisfação que sentimos com o que temos. Podemos aumentar nossa sensação de satisfação com a nossa performance quando da execução de exercícios comparando-nos com os que são menos afortunados com relação a prática esportiva e refletindo sobre tudo o que fazemos e temos. Vale à pena pensar sobre isso!
Uma segunda colocação é a de que “O primeiro passo na busca da felicidade é o aprendizado”. O livro menciona o fato de que precisamos antes de mais nada, aprender como as emoções positivas são benéficas e nos conscientizar de como certas emoções negativas são prejudiciais e danosas somente para nós mesmos. Esse tipo de conscientização aumenta nossa determinação para encará-las e superá-las. Não importa qual seja a atividade ou a prática a que queiramos nos dedicar, não há nada que não se torne mais fácil com treinamento e a familiaridade constante. Por meio do treinamento, podemos mudar, podemos nos transformar. Realizar atos salutares pode não nos ocorrer naturalmente, mas temos de fazer um treinamento consciente nesse sentido. A adoção da felicidade como um objetivo legítimo e a decisão consciente de procurar a felicidade de modo sistemático podem exercer uma profunda mudança no restante de nossas vidas. Importante que reflitamos sobre o que realmente tem valor na vida, o que confere significado a nossa vida e fixemos nossas prioridades com base nisso.
Como praticantes de corrida de rua muitas vezes buscamos situações que possuem valor entendível e mensurável somente para os que praticam, sendo estranhos ou sem valor para aqueles que ainda não incorporaram a prática esportiva como algo importante e imprescindível. Nesse caso vale à pena também pensarmos sobre o assunto e refletirmos na importância dessa relação.
Outra abordagem muito interessante é com relação à “mudança de perspectiva” definida como a capacidade de encarar os acontecimentos a partir de pontos de vista diferentes. É preciso entender que todos os fenômenos, todos os acontecimentos, apresentam aspectos diferentes. Tudo tem uma natureza relativa. Quem de nós após uma corrida, apesar de concluída com relativo sucesso, não desdenhou da própria participação, sem lembrar que muitos não conseguiram ou não conseguiriam aquele intento? Quando se olha apenas para o acontecimento de forma isolada, ele parece ser cada vez maior. Se focalizarmos muito de perto, com muita intensidade, ele parece incontrolável. Porém, se compararmos aquele acontecimento com algum outro acontecimento de importância, se avaliarmos o mesmo problema com algum distanciamento, ele irá nos parecer menor e menos avassalador. Pense nisso!
Encerrando não posso deixar de comentar aspectos importantes de como lidar com a ansiedade e reforçar o amor-próprio. Esse parágrafo me parece totalmente destinado a pessoas como eu que passam diariamente correndo de um lado para o outro de forma incansável. A ansiedade pode prejudicar o discernimento, aumentar a irritabilidade e bloquear nossa eficácia geral. Pode ainda, levar a problemas físicos, entre eles incluídos a redução da função imunológica, as doenças cardíacas, os transtornos gastrintestinais, a fadiga, a tensão e a dor muscular. Cultivar a compaixão e aprofundar nossa ligação com os outros pode promover a boa higiene mental e ajudar a combater estados ansiosos.
Dalai Lama sugere ainda como medida para reduzir o sentimento de preocupação o seguinte pensamento: “Se a situação ou problema for tal que possa ser resolvida, não há necessidade de preocupação. A atitude acertada consiste em procurar a solução, sendo mais sensato gastar energia voltando à atenção para a solução do que nos preocupando com o problema. Por outro lado, se não houver saída, nenhuma solução, nenhuma possibilidade de equacionar o problema, também não fará sentido nos preocuparmos já que não poderemos fazer nada a respeito mesmo. Nesse caso, quanto mais rápido aceitarmos esse fato, menos ele nos incomodará”. Pensar nisso nos ajuda a aliviar nossa ansiedade.
Importante ainda mencionar o quanto a motivação sincera atua como antídoto para reduzir a ansiedade. Se formos motivados por um desejo de ajudar alicerçado na generosidade, na compaixão e no respeito, poderemos realizar qualquer tipo de trabalho em qualquer campo e funcionar com eficácia muito maior, com menos receio ou preocupação, sem ter medo da opinião dos outros, sem temer se acabaremos tendo sucesso ou não na realização do nosso objetivo, poderemos ter a boa sensação de pelo menos ter tentado. Quanto mais nos aproximamos de ser motivados pelo altruísmo, tanto mais destemidos nos tornamos, mesmo diante de circunstâncias extremamente propensas a gerar ansiedade. Nesse momento pensei sobre o quanto gostaria de correr uma Maratona mesmo sabendo que ainda corro com dificuldades uma Meia.
No que se refere ao amor-próprio, quando baixo, inibe nossos esforços para avançar, para enfrentar desafios e até mesmo para assumir alguns riscos necessários na busca da realização dos nossos objetivos. O excesso de confiança em si mesmo pode ser igualmente nocivo. Aqueles que sofrem de uma noção exagerada das suas próprias capacidades e realizações estão permanentemente sujeitos a frustrações, decepções e acessos de raiva quando a realidade se manifesta e o mundo não corrobora a visão idealizada que têm de si mesmo. A superioridade desses indivíduos costuma resultar numa noção de arrogar-se direitos e numa espécie de altivez que os distância dos outros e impede relacionamentos satisfatórios em termos emocionais.
Superestimar sua capacidade pode levá-los a assumir riscos perigosos. Cada um precisa conhecer seus limites! Em geral, creio que ser honesto consigo mesmo e com os outros a respeito do que se é ou do que não se é capaz de fazer pode neutralizar essa sensação de falta de auto-confiança.
Novamente pensei muito sobre a possibilidade de no futuro correr uma Maratona, sem que isso causasse problemas ou riscos de saúde para mim. Restariam ainda as seguintes perguntas: Você conseguiria trazer esses ensinamentos para o nosso dia a dia de corredores amadores? Quem ainda em seu blog não mencionou que a prática esportiva da corrida participativa conduz à felicidade? Quem ainda não foi excessivo em seus treinamentos e em sua própria auto-avaliação? Quem ainda não desdenhou seus próprios feitos julgando-se superior a aquilo que realmente é? Por que não buscamos constantemente fatores positivos em situações negativas?
Igualmente, posso dizer que perguntas desse tipo não mais me incomodam, pois, após a leitura recomendada, aprendi que a disciplina interior é à base de uma vida espiritual e esse é o método fundamental para se alcançar a felicidade. A partir de sua perspectiva, a disciplina interior envolve os combates aos estados mentais negativos, tais como a raiva, o ódio e a ganância e o cultivo de estados mentais positivos, tais como a benevolência, a compaixão, o perdão e a tolerância. Uma vida feliz é construída sobre um alicerce propiciado por um estado mental estável e tranqüilo e esse deve ser o parâmetro a ser utilizado na busca de nossos objetivos e conquistas.
Um grande abraço
Marildo Nascimento

3 comentários:

  1. Li este livro há alguns anos atrás e tirei dele muitos ensinamentos para a vida também. Agradeço ao amigo por relembrar alguns deles em mais um belo e significativo texto. Ambos os senhores, Tenzin Gyatso e Marildo Nascimento, sabem das coisas...

    Abraço e boa semana !

    Fábio

    ResponderExcluir
  2. Oi, Marildo:
    Obrigada pelas visitas! Precisamos marcar um almoço! Você está devendo este encontro! Rsrs.
    Este livro parece muito bom! Acho que vou lê-lo também! O fator psicológico afeta o nosso organismo, sim. Temos que tomar muito cuidado com isto! Vamos levando! Um abraço e até breve!
    PS: Parabéns pelo site!

    ResponderExcluir
  3. Marildo,

    Vim retribuir a visita e preciso lhe dar os parabéns! O site e o blog estão ótimos. Muita matéria, muita informação. Parabéns mesmo.


    Abç!

    ResponderExcluir

Faça um Comentário Legal